O Cluster do Calçado e Moda evoluiu de atividades lideradas pela manufatura e mão de obra para atividades lideradas pelo mercado e baseadas no conhecimento, tirando vantagens do design e da moda e preservando a capacidade de produção em Portugal. Para se manter competitivo, o Cluster tem que apostar na criatividade, dominar todo o processo de produção e o ciclo de vida do produto, acrescentando valor em cada fase e abraçando os desafios, tendências e oportunidades sociais, de mercado, tecnológicas, a indústria 4.0 e a economia circular.
Decorridos dois anos de trabalho, os co-promotores do projeto de I&DT mobilizador FAMEST realizaram no passado dia 29 de janeiro de 2020, nas instalações do CTCP, em São João da Madeira, uma AÇÃO DE DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS E WORKSHOPS. Numa altura em que o projeto transfere os trabalhos de investigação para uma fase de testes piloto.
Os trabalhos iniciaram-se com uma reunião técnica do projeto, na qual foram apresentados os principais resultados atingidos.
Leandro de Melo, Diretor geral do CTCP deu as boas vindas aos participantes, salientando que “os desenvolvimentos são úteis quando são aplicados pelas empresas e os conhecimentos são bons quando são utilizados, daí a importância de ações como estas”. O CTCP lidera estes grupos de trabalho e é a entidade responsável por dinamizar estas ações de disseminação e transferência de conhecimento para a indústria do calçado.
O início dos trabalhos foi também marcado pela presença de Fortunato Frederico, presidente do Grupo Kyaia e líder do projeto, com o seu testemunho emotivo e experiente do caminho que o setor tem vindo a percorrer nas últimas décadas.
Fortunato Frederico começa por dizer que “a inovação está hoje na base da afirmação da indústria Portuguesa do calçado no mundo” e recorda que “o setor viveu sempre de paradigmas e dificuldades e que foi isso que construiu o setor que hoje conhecemos”.
“Saímos do tempo das palmilhas de cartão até hoje às palmilhas sensorizadas, capazes de detetar e identificar algumas “maleitas” do nosso corpo”.
Termina fazendo um apelo aos participantes “Hoje o paradigma da nossa indústria é a Inovação, temos que vender sapatos, não pelo preço, não pela qualidade, mas sim pela inovação. O caminho é inovar, inovar, inovar.”
A Agência Nacional de Inovação (ANI), entidade gestora do projeto mobilizador FAMEST esteve representada no evento por Vera Barreto, que enfatizou o empenho e a total disponibilidade da ANI para apoiar os co-promotores neste caminho da inovação.
Maria José Ferreira, diretora do projeto FAMEST e de IDT do CTCP referiu que “os 33 co-promotores do projeto estão a trabalhar de modo entrosado e sinérgico estando os objetivos propostos a ser atingidos”.
Salienta que “o projeto está a apostar em inovações com elevado valor acrescentado em áreas atualmente estratégicas para todo o cluster incluindo novos materiais, calçado e modelos de negócio sustentáveis e tecnologias eficazes, económicas e digitais/indústria 4.0”.
A reunião prosseguiu com a apresentação técnica dos desenvolvimentos, por parte dos co-promotores das diferentes áreas.
Durante a tarde todo o cluster foi convidado a conhecer as principais inovações desenvolvidas, numa demonstração pública designada de “CALÇADO, MATERIAIS E TECNOLOGIAS DO FUTURO”.
Em simultâneo, foram realizas workshops nas quais os responsáveis das empresas e entidades de IDT salientaram os seus elementos diferenciadores e vantagens
Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer e falar com os responsáveis pelas mais recentes inovações desenvolvidas, no projeto Mobilizador FAMEST. São inovações que assentam em 3 princípios fundamentais para o futuro do setor:
1. Sustentabilidade e economia circular;
2. Biomecânica e calçado sensorizado;
3. Indústria 4.0 e economia digital.
Maria José Ferreira, encerrou os trabalhos convidando os participantes a testarem estas inovações e participarem em novas demonstrações a realizar em ambiente industrial. “O período dedicado às tarefas de I&D está a terminar. Durante o ano de 2020 serão realizadas ações de demonstração piloto em ambiente industrial nas quais vos convidamos desde já a participar” conclui.
O FAMEST é um projeto financiado pelo Compete2020 e é promovido por um consórcio completo de 32 co-promotores: 23 empresas de toda a cadeia de valor do calçado: couros, palmilhas, solas, produtos químicos, software, equipamentos, logística e calçado, representativas e líderes nos seus setores, e 9 entidades de I&I com competências multidisciplinares e complementares, que asseguram o desenvolvimento de resultados inovadores e a sua valorização económica pelos promotores nos mercados nacional e internacional.
PRINCIPAIS INOVAÇÕES APRESENTADAS
1- INDÚSTRIA 4.0 E ECONOMIA DIGITAL
Uma das áreas estudadas pelo consórcio, foi a Indústria 4.0 e economia digital, e, neste campo os parceiros desenvolveram já ferramentas e tecnologias que estão em condições de serem implementadas nas empresas, nomeadamente:
FERRAMENTAS DE DESIGN E SOLUÇÕES DE MODELAÇÃO
• Metodologias de design, co-design e eco-design para apoio ao desenvolvimento de calçado e novos produtos de calçado.
• Ferramentas de modelação e simulação para estudo e otimização dos processos de extrusão e injeção; das propriedades físico-mecânicas dos materiais e componentes e de propriedades de conforto.
SOLUÇÕES INOVADORAS DE EQUIPAMENTOS DE CORTE POR FACA E POR JATO DE ÁGUA
• Equipamento de corte por jato de água e um equipamento de corte por faca. Sistemas ágeis e flexíveis, com 2 cabeças de corte que operam, em simultâneo e de forma independente, com divisão automática do trabalho. Estes sistemas já se encontram em fase de teste piloto e permitem aumentos de produtividade que variam entre 70% a 100% dependendo do tipo de material.
DIGITALIZAÇÃO DO CLUSTER DO CALÇADO
• Plataforma IIOT
• AGV para movimentação de materiais, componentes e produtos no processo de produção do calçado
NOVOS EQUIPAMENTOS PARA O CONTROLO DE QUALIDADE NO CLUSTER DO CALÇADO
• Sistema modular para avaliação da flamabilidade de diversos materiais.
• Sistema para avaliação da resistência do couro à exposição a altas temperaturas sob tensão.
• Sistema digital para medir a temperatura de retração do couro.
PLATAFORMAS DIGITAIS E VENDAS DE CALÇADO
• Plataforma Colaborativa Estendida para a Indústria do Calçado.
• Plataforma para retalho.
• Plataforma Marketing Digital.
2- SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR
Na área da Sustentabilidade e Economia Circular foram apresentados novos produtos químicos, couros, materiais, componentes e produtos de calçado.
• Novos produtos de base natural e com origem em subprodutos, resultantes de outras indústrias (por exemplo, da indústria alimentar e do papel) para couros.
• Materiais de couro usando os novos produtos químicos e processos.
• Materiais e componentes de base nano, para fabrico aditivo e reciclados usados na produção de calçado.
• Produtos de calçado ecológico, moda, conforto e trabalho (casual, diabético, segurança, militar).
3-BIOMECÂNICA E CALÇADO SENSORIZADO
Na área da Biomecânica e calçado sensorizado foram desenvolvidos e apresentados sistemas de sensorização e calçado Smart.
• Sensores de tensão de corte e pressão na gáspea para realização de ensaios biomecânicos.
• Solução para medição da pressão plantar do calçado, com diversas aplicações. Por exemplo, pode ser integrado em calçado de trabalho para deteção de sobrepressões, durante a realização de trabalhos em sobrecarga ou para apoiar à ergonomia dos postos de trabalho; ou em calçado para diabéticos como “alerta” de que é necessário proceder a alteração da marcha, hábitos ou postura e evitar sobrepressões que possam conduzir a lesões no pé.